domingo, 28 de março de 2010

Redes Sociais: Por quem sois!

Uma coisa é certa e segura: à pala das redes sociais, mais concretamente do Facebook, o Courrier Internacional vendeu na sexta feira passada, pelo menos, mais um exemplar! Sim senhor: aquele que mora aqui na mesinha da minha sala, onde está poisado o computador XPTO em cujo teclado, escrevo esta opinião!
Quem aqui me lê já teve tempo de perceber que eu só me pronuncio quando a coisa é mesmo mesmo interessante, actual ou desafiante o bastante para me colocar o conjunto de neurónios 23 a funcionar. Bem sei que nunca vos expliquei os meus conjuntos de neurónios, mas isso agora não é relevante para o caso. O que importa a todo o momento e a toda a gente (até a mim, imagine-se!), são as virtuais redes sociais. Nelas ou por via delas, passa-se quase tudo o que é importante para os humanos nos dias de hoje, se não vejamos: Fazem-se negócios, engata-se gente, investiga-se tudo e mais um par de botas, cavam-se batatas, plantam-se rosas amarelas e beringelas num passe de mágica, enganam-se tolos por via de bolos e bolinhos e beijocas e abracinhos com sabor a água de malvas, tagarela-se... Essencialmente tagarela-se muito muito muito. Gasta-se o tempo que não se mede já, discutem-se as mil e uma séries que passam na televisão, canta-se o fado e toma-se chá com 500 pessoas de cada vez! E pronto, basicamente é isto! Ora bem, não fosse ter dito quase tudo, até eu me convencia que o melhor seria parar de ler imediatamente pela 3ª vez o livro “A Câmara Clara”, de Roland Barthes. Convencia-me de que não vale a pena perder tempo e gastar energia com leituras e menos ainda com reflexões, pois que elas não fazem parte dos mandamentos determinados e subscritos pelas redes sociais. Poderia convencer-me também de que os cerca de 130 “amigos” que constam da minha lista do Facebook, são realmente pessoas que conheço bem e vice versa, e que, numa aflição posso contar com todos eles. (Não creio que se morrer agora, todos estejam no meu funeral, mas aqui, admito que sou eu a destagarelar!). Consola-me saber que, pelo menos morreria dentro da média do que se considera ser, actualmente, alguém sociável e de boas relações. Já não é mau de todo, e assim como assim, a malta quando morre já não sabe para que lado é o norte. Portanto, quero lá saber quem é que vai ao funeral!

Justifica este palavreado todo, precisamente a célula: QUASE TUDO! Sem dúvida o Courrier de Abril mostra-se exímio a levantar um conjunto de questões, na minha opinião deveras prementes, acerca da realidade vivida actualmente por todos nós, via redes sociais virtuais. Mal comparando as coisas, diz Barthes (pág. 76, edições 70): “Dizer de uma foto «é quase ela»!, era para mim mais doloroso do que dizer de uma outra: «não é nada ela». O quase: regime atroz do amor, mas também estatuto decepcionante do sonho – a razão pela qual detesto os sonhos.” Escrevia ele sobre a fotografia. À época (c.1980), senhores como Barthes ainda perdiam tempo a pensar e a tentar construir novas teses de nomeação e compreensão sobre a realidade humana. Por isso mesmo, Amor e Intimidade ainda andavam a par, da mesma maneira que, Intimidade andava sobreposta à capacidade humana de reconhecer o outro, pelo tão bem e tão profundamente que nos preocupávamos em nos conhecermos a nós mesmos, e aos outros. Sensivelmente, na mesma altura, Amizade ainda queria dizer “poder contar com”. Sonho, ainda era, como se vê pela citação acima, alguma coisa de permeio entre o amor recíproco, o (re)conhecimento mútuo, e a capacidade de imaginar em conjunto com, alguma coisa da ordem da Intimidade.

Nada disto hoje em dia, quer dizer a mesma coisa! O que é que aconteceu? São as redes sociais que, de repente, sem a gente dar conta, mudaram os significados das palavras/categorias de vívido acima ditas. Além do mais, já é QUASE-POSSÍVEL fazer bebés pela internet, pari-los e amamentá-los. E também já é QUASE-POSSÍVEL dispensar o olhor dentro dos olhos de alguém para se dizer “Amo-te” (o facebook faz tudo isso por ti!!), da mesma maneira que, o som específico e especial do sorriso de cada um de nós acompanhado dos batimentos cardíacos tradutores do estado de enamoramento verdadeiro está QUASE-A-TORNAR-SE-NA-MAIOR-APLICAÇÃO—DE-SEMPRE!

Bem, desta me vou porque Roland Barthes ainda me ganha no interesse que tenho pela minha quintinha Farmville (que tá de gritos!!).

Até breve, para mais desenvolvimentos.
Manjerica.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sócrates: o outro lado da Lua!

Eu não queria ter de opinar sobre isto, uma vez que tal encomenda me deixa sempre com alguns pruridos na zona lombar, ou melhor dizendo, na zona da minha modesta criatividade. Refiro-me, para que não restem dúvidas, que o Isto dito acima se chama Sócrates – o tal do engenheiro fabricado algures numa praça junto de si!

Bom, mas vamos lá engolir o sapo e escrever uma linhazitas opiniosoas acerca do indivíduo e da suposta parte do feijão frade que, pelos vistos, anda a incomodar toda a gente.
Para quem tem algum treino, como eu, em estar atenta às supostas partes todas dos outros, tenho a dizer-lhes que o Sócrates nunca escondeu nada. A verdade do seu cinismo (fruto da sede insaciável de poder que tem), da sua arrogância (fruto de um narcisismo frágil, isento da humildade necessária a todos nós para nos reconhercermos a nós mesmos como somos), do seu autoritarismo e a da sua fraquíssima capacidade de liderança, sempre esteve à vista de todos. Contudo, já nem sei se o que me incomoda, e me leva nomeadamente a escrevinhar estes miseráveis palpites, é a sua “dupla face” ou se é a surpresa que, entretanto, a sua mais clara evidência promove em muitos dos que têm opinado sobre o assunto.
Não se fala noutra coisa - é o assunto do dia, seja para os comentadores de televisão que cegos, e burros alguns, andam constantemente a reboque para manterem o lugarzinho que lhes convém nas carteiras assíduas dos que têm alguma coisa a dizer; seja para os políticos que à falta de ideias novas e de propostas concretas, execuíveis e verdadeiramente alternativas para governar a malta, se servem agora do embuste do cavalheiro para se iludirem a si mesmos de que desta vez é que é; seja para o povo que vota (ou não, porque o povo é de apeteceres e nem sempre comparece) que, na esperança de que a indignação ainda faça parte do leque das suas faculdades, vai de boato em boato mantendo o segredo relativamente à sua simpatia – mais que não seja, porque na hora h, dá sempre jeito comer feijão frade com atum! – seja para muitos outros e mais alguns...

Pergunto: mas será que estas manifestações de dupla face, são mesmo aquilo que mais importa? Não valeria a pena, isso sim, executá-lo de vez pelas merdices que tem andado a fazer ou a dizer que faz, sendo que, pelos vistos, segundo vem agora admitir, já pode ser tudo de outra maneira? (exemplos: a avaliação dos professores que afinal era demasiado burocrática, as grandes obras públicas que afinal podem esperar porque não há dinheiro que as pague, o desemprego que diminui, porque as estatísticas confirmam sempre as aldrabices que forem necessárias, etc...)No meio disto, bom mesmo seria que não nos esquecêssemos de que é este senhor feijão frade (com toda a humanidade que lhe assiste e que eu, nem sequer questiono) que nos tem governado e ditado as regras com que temos que viver no dia a dia. E tem-no feito porquê? Porque a maioria de nós (eu estou a salvo aqui, dado que, arrogantemente que seja da minha parte, ele a mim, nunca convenceu) o colocou lá. E quer-me cá parecer que mesmo sendo o assunto do dia, ele continua a dar jeito a muitos dos mal resolvidos que somos!

Valha-nos deus, senhores! Valha-nos deus!! Haverá algures em algum lado, povinho mais hipócrita, desonesto e trapaceiro que o meu?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A minha geração!

Pertenco à geração dos que estão a completar a tão sagrada idade dos 40 anos.
Supostamente, seríamos nós os responsáveis por decidir o futuro dos outros uma vez que somos parte da força produtiva e activa do país em que vivemos. Como tal, não só trabalhamos (pelo menos aqueles que têm a sorte de ainda o poder fazer), como contribuímos com depósitos regulares para um cofre comum de onde sai o dinheiro para sustentar o Sistema Nacional de Saúde, a Educação, a Sistema da Justiça, as Pensões...
Mas, seríamos também responsáveis porque a entrada nos 40 anos nos exige maturidade inequívoca! Não há volta a dar – já crescemos, e ponto final.

Seríamos!
Pois é!

Observo de dentro da minha geração e pergunto o que andamos nós a fazer uns aos outros? Sim, porque o que andamos a permitir que nos façam e que façam com os outros, está à vista – nem sei se valerá a pena falar disso! Comporta-mo-nos como se adolescentes ainda fossemos, hipotecando aos “pais” (aos que governam o país) as decisões tomadas, para assim nos permitirmos proteger das consequências que sempre trazem. Continuamos, como miúdos que já não somos, a preferir encolher os ombros quando temos uma nota menos boa, e a rir por detrás das câmeras fingindo que da próxima vez estudaremos mais, quando na verdade o que queremos é que nos deixem da mão, porque o que importa é a diversão – o lado mais colorido e belo da vida!

Uns com os outros, andamos armados em parvos! Não podemos com a mesma facilidade, fingir que continuamos a ter um metro e meio de altura – porque uns e outros medimos o mesmo! – mas, de uma forma um tanto ou quanto descarada fazemos algo ainda melhor do que fingir - mentimos! A moda é: “logo se vê, pode ser que amanhã...”.

Mas qual amanhã? Não há amanhã aos 40 anos. A lógica muda de rumo, definitavamente. O tempo instala-se como a única categoria de onde pode decorrer, finalmente, um pensamento e uma fala. Aqui, também não há volta dar – a maturidade é vertical! Portanto, quanto ao que andam a fazer aos outros, andamos curvados criando hérnias e outros males de coluna – afinal, estamos a ficar velhos! Uns com os outros, se não andamos a mentir, andamos decididamente distraídos ou a tentar convencer-mo-nos de que ainda não adquirimos todas as ferramentas da linguagem e que, portanto, o vocábulo Compromisso é desnecessário!

Feitas as contas, tudo isto se deve ao peso excessivo da altura que temos!

sábado, 6 de junho de 2009

Demissionários de uma figa!

Do camarote-quase-presidencial de onde diariamente (ou sempre que a paciência não se me esgota!) assisto aos dramas dos outros que se fantasiam de personagens - uns dramáticos, outros nem por isso - tenho escutado amiúde um tal de argumento comum a que, pelos vistos, chamam de “Crise”! Não sei quem raio foi o autor de tal movimento operático, mas tem-me parecido muito desenchabido, para não dizer mesmo, grosseiro e mal alinhavado. Talvez seja a minha expectativa que me atraiçoa, mas confesso que em momentos como este esperei que os ditos viessem mais artísticos. Afinal, parece ser um mote maior que nós, à escala internacional, o que, desde logo, legitimaria mais amplitude criativa.
Não. Não têm vindo, para meu desalento!

Uns, os tradicionalmente dramáticos, têm falado numa nova língua – a do “pessimismo” (palavra que merece o meu itálico dado ser um estrangeirismo!) - quando o que esperava deles, era uma real e expressiva fala de revolta; os outros, tradicionalmente brejeiros e simpáticos, andam preocupados em fazer contas à vida enquanto espreitam pelo canto do olho (para que ninguém saiba) as cotações da bolsa de valores, não vão ter agora a possibilidade de ganhar finalmente a lotaria!

Pergunto: mas que raio de brincadeira vem a ser esta, a da Crise?! Então já não se apresenta ninguém com dotes verdadeiramente artísticos que mereça o meu respeito? Quem se apresenta afinal, capaz de desencalhar a consciência da malta e começa a desconstruir falácias, a exigir demissões em barda daqueles que estão no poder, a ter a coragem de não alinhar nesta palhaçada que desfigura mais do que os pilares do bem amado capitalismo! Mas que raio de gentinha é esta a do nosso país, que só pensa no seu umbigo e nada mais sabe fazer a não ser esperar sentadinha na cadeira de baloiço, até que o melhor dos dias se apresente por ai, vindo do céu, ou pior ainda, da América ou da Europa!

Chama-se Demissão aquilo a que assisto todos os dias!
É a Demissão Passiva do Povo!